A matéria televisiva beira o sensacionalismo tacanho que se espera da velha Rede Globo, ao querer retratar um esquema que teria, supostamente, “caído do céu”, com operadores de teleatendimento acordando num belo dia e ando a aplicar golpes em aposentados e aposentadas. Ocorre que essa narrativa não apenas falsifica a realidade, como também inverte responsabilidades fundamentais.
É preciso destacar que o teleatendimento é uma ferramenta — um meio — e quem a utiliza como canal para contratação de serviços o faz sob orientação direta de um contratante. Empresas que vendem planos, produtos ou serviços por telefone treinam operadores, redigem scripts e direcionam a forma de abordagem. Ou seja, o atendente segue ordens. Se há falha ética ou ilegalidade, a responsabilidade é de quem comanda e lucra com esse processo.
“A tentativa de transformar o telemarketing em bode expiatório de uma crise é inaceitável. Se há desvios, que se investigue. Mas generalizar e desinformar é um desserviço ao Brasil. Quem errou deve ser punido, sim, mas não às custas da honra de toda uma categoria”, afirmou Marco Aurélio, presidente do Sintratel.
Não se trata aqui de defender práticas antiéticas, que devem, sim, ser apuradas com o rigor da lei — e tratadas como caso de polícia. Mas querer culpabilizar uma categoria inteira, composta por mais de 1 milhão de trabalhadores e trabalhadoras em todo o país, é tão leviano quanto perigoso. São pais e mães de família, jovens iniciando a vida profissional, gente que trabalha com dignidade, enfrentando metas abusivas, jornadas estafantes e salários apertados — mas sem nunca perder a ética no exercício da profissão.
A matéria ainda dramatiza o suposto arrependimento de operadores como se tivessem cometido crimes hediondos, colocando-os em enredos de “redenção” religiosa ou internação psiquiátrica. Isso não é jornalismo: é exploração midiática, feita às custas da imagem de uma categoria que sustenta o funcionamento de inúmeros serviços essenciais no Brasil.
Estava mesmo demorando para tentarem jogar nas costas do telemarketing uma crise estrutural. Mas é preciso separar as coisas. Há empresas sérias com call centers próprios. Há atendimento comprometido sendo feito diariamente. E há, sim, más práticas — como em qualquer setor da economia. O que não se pode aceitar é que a exceção seja tratada como regra para fomentar o preconceito e a desinformação.
Aliás, se é para discutir práticas abusivas de venda, por que não se fala das “empurradas” que ocorrem nas lojas físicas, nos bancos, nos aplicativos e até nos postos de gasolina? Quantas vezes o consumidor é induzido a aceitar garantias estendidas, seguros embutidos ou taxas camufladas? E onde estão os grandes veículos para denunciar essas condutas?
Diante disso, torna-se ainda mais importante fortalecer o papel do Sindicato. O Sintratel não é apenas instrumento de luta por direitos. É também espaço de fiscalização, denúncia e proteção social, tanto para quem está na ativa quanto para aposentados e aposentadas que, ao longo da vida, construíram este país e os próprios sindicatos.
Não se trata apenas de defender uma categoria atacada injustamente. Trata-se de defender a verdade. De impedir que narrativas sensacionalistas destruam reputações e coloquem milhares de trabalhadores na mira do preconceito.
O Sintratel seguirá firme em sua missão de representar, proteger e valorizar os profissionais do telemarketing — e de exigir respeito.